Pesquisa da Embrapa ajuda no desenvolvimento de batata orgânica resistente a doenças

No Brasil, a pinta preta, causada por fungos, representa uma das mais importantes e destrutivas doenças na produção de batata e manifesta-se nas folhas. Com o objetivo de combater essa doença, está sendo lançado pelo Programa de Melhoramento Genético da Embrapa algumas variantes de batatas, ampliando o leque de opções ao setor produtivo.

Uma variedade nova de batata, BRS F50 (Cecília), foi lançada no dia 30 de novembro na propriedade de Leonardo Kmiecik, no distrito de Ferraria, em Campo Largo (PR), e apresenta como principal diferencial a resistência a doenças nas folhas, o que diminui a necessidade de uso de defensivos químicos, lhe conferindo indicação ao cultivo orgânico de produção, e com melhor qualidade de tubérculo. 

O material foi desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado (RS) e pela Embrapa Hortaliças (DF) com testes nas estações experimentais Cascata (EEC), em Pelotas (RS), e Canoinhas (EECan), no estado de Santa Catarina. 

Resistência às principais doenças da cultura

Uma das principais características da  BRS F50 (Cecília) é sua resistência moderada a doenças foliares, como a requeima (Phytophthora infestans), principal doença da batata no mundo, que pode causar a perda total da produção, e a pinta preta (Alternaria grandis), também importante, que reduz o tamanho dos tubérculos e a produtividade. 

Essa resistência, no entanto, não dispensa a necessidade de medidas de manejo de controle de doenças, independentemente do tipo de sistema utilizado, com substâncias ou produtos permitidos para cada caso. Os cuidados também são importantes porque a variedade não é resistente a doenças como o vírus Y da batata (PVY) e o vírus do enrolamento das folhas da batata (PRLV).  

Características agronômicas: cultivo e produção

No campo, a BRS F50 (Cecília) apresenta elevado potencial produtivo, podendo chegar a 45 toneladas por hectare. As plantas têm porte médio a alto, com hábito de crescimento semiereto, e folhas moderadamente abertas. O ciclo vegetativo é médio, com cerca de 110 dias. 

“A combinação de produtividade, resistência a doenças foliares, aparência de tubérculo e conteúdo de matéria seca encontrada na BRS F50 (Cecília) confere um produto versátil no campo e na mesa”, comenta o pesquisador Giovani Olegário da Silva, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da cultivar.

O material é adaptado à safra de inverno, com plantios de maio a julho, em Minas Gerais e São Paulo; e às safras de outono e primavera, com plantios em fevereiro e maio e em agosto e setembro, respectivamente, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Além disso, pode ser cultivado na safra de verão, em áreas de maior altitude do Sul do País. 

Tubérculos e opções de uso

As batatas da nova variedade têm película amarela e lisa, com formato ovalado e gemas rasas, o que confere aparência atrativa. Sua polpa é de coloração amarelo-clara. Além disso, os tubérculos apresentam baixa suscetibilidade a defeitos, exceto rachaduras de crescimento, caso a umidade do solo não esteja adequada na fase de enchimento. Também são moderadamente resistentes ao esverdeamento pós-colheita.

Em termos de uso, a nova cultivar apresenta textura firme e não farinhenta no pós-cozimento e sabor característico. O teor de matéria seca é relativamente alto (maior que 20%), o que a torna versátil para uso, já que essa característica também a torna adequada à fritura. A textura é crocante e a cor clara em produtos fritos.

 Desenvolvimento, avaliação e seleção

A nova variedade foi desenvolvida para ser destinada ao mercado fresco e testada e selecionada com base na aparência dos tubérculos, no potencial produtivo, no teor de matéria seca e na resistência a doenças foliares. Seus testes ocorreram em várias regiões produtoras do Brasil, apresentando vantagens em relação às cultivares voltadas a sistemas de produção menos dependentes de controles químicos de doenças foliares.